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Como falei anteriormente, um dos pontos altos de se andar com a Dahon é a interação que tenho com as outras pessoas. A mais comum tem sido quando vou a algum restaurante ou bar, paro em frente, dobro a bicicleta e entro no local. Invariavelmente os funcionários da casa e até os donos acabam vindo conversar comigo. Quem sabe um dia ainda ganho um desconto na conta por isso.
Mas na semana passada, antes do acidente, aconteceu algo que achei interessante. Fui visitar uma amiga, já tarde da noite, parei em frente ao prédio e enquanto o porteiro interfonava, transmutei a bicicleta.
O porteiro ficou fascinado. Quando parei ao lado da guarita ele abriu a janela e começou a conversar entusiasmado comigo. Ele também havia utilizado bicicletas como meio de transporte em São Paulo anos atrás, mas desistiu por conta do risco. Mesmo sendo uma pessoa simples, ficamos um tempo conversando dos problemas de São Paulo, dos riscos de se pedalar, comportamento no trânsito, melhorias que poderiam ser implementadas, etc.
A conversa durou uns bons 15 minutos, quando ele “percebeu” que estava fazendo “algo errado”. Pelo prédio possuir um certo padrão, teoricamente os funcionários não deveriam interagir desta forma com os visitantes. Me pediu desculpas por ter sido tão inoportuno, por deixar a empolgação tomar conta e me prender por tanto tempo. Tranqüilizei-o dizendo que foi opção minha e que se a conversa não tivesse sido boa, eu não teria ficado tanto tempo lá com ele.
Talvez este seja um dos problemas. Não estou falando da pontualidade de problemas como transporte por bicicleta ou divisão social, mas da comunicação entre as pessoas. Creio que parte dos problemas do mundo se resolveria de forma mais simples se conversássemos mais com os outros, conhecidos ou não, cultos ou não.
Vivemos em comunidade e devemos fazer isso valer. Não somos ilhas.
Esta semana fui com o Rique ao centro da cidade para um safári fotográfico rápido, um almoço no Café Girondino e um bate papo descompromissado.
Dentre os locais que passamos, conseguimos finalmente subir ao mirante do Banespa (que agora é Edifício Altino Arantes depois da compra pelo Satander). Na foto que abre este post temos uma vista do edifício, de dentro das portas do Mosteiro de São Bento.
A vista é linda: 360 graus em um ponto privilegiado, aonde se vê em dias claros a até 40 quilômetros de distância. Uma pena que o dia estava nublado e chuvoso e que eu só levei meu celular para fotografar. Combinamos de voltarmos lá em um dia ensolarado e munidos de equipamento técnico adequado.
Abaixo algumas das fotos lá de cima, pelo menos as menos piores que eu consegui dadas as condições (clique para ampliar):
Foi um acidente, tomei um sustão, ganhei algumas marcas de batalha, repensei alguns detalhes de como devo lidar com as bicicletas em São Paulo. Mas o que ficou mesmo disso tudo?
Nem 24 horas depois do acidente eu já estava na bicicleta novamente. Usei-a para resolver umas coisas na parte da tarde e para sair com amigos de noite. Por que é assim que sempre deve ser: a gente cai e se levanta em seguida.
Vivemos riscos em tudo em nossa vida. Como no caso da bicicleta, sabemos deles de antemão. A questão é vermos se o que queremos vale este risco e se vale, não devemos temer a busca.
Ostento minhas cicatrizes com orgulho. Provas de que me entreguei de verdade.
Continuarei meu caminho. Alguém me acompanha em uma volta?
Demorou, ou não. Ganhei meu batismo de asfalto nesta quinta. Tomei uma fechada de um táxi, sambei no cascalho e beijei o chão.
Eu estava um pouco distraído, isso é verdade. No limite do horário para chegar na aula de dança e com a cabeça ainda cheia com o peso de muitas elucubrações. Se eu estivesse mais atento, talvez tivesse me safado.
Estava descendo a Arthur de Azevedo, na Vila Madalena. Um pouco rápido sim (32km/h) e a região anda em obras, então volta e meia encontram-se trechos com cascalho, areia e outros restos de construção espalhados na pista.
Estava quase chegando na Mateus Grou quando um taxista resolveu acelerar, dar uma buzinada e me ultrapassar, jogando o carro na minha direção para fazer uma conversão à direita. Desviei no susto, desequilibrei, freei para reduzir, mas estava passando em cima de cascalho e areia. Não teve jeito, caí com tudo de lado. O taxista nem viu o que aconteceu, pois já estava virando a esquina.
De imediato, duas sensações. Uma táctil: algo escorria na lateral do meu rosto; outra se sobrevivência: precisava sair do meio da rua para não ser pego por algum carro. Rodei de lado e arrastei a Dahon para a calçada.
Peguei a minha toalha, molhei-a com água da mochila de hidratação e comecei a limpar o sangue do rosto, ralado das mãos e cotovelos. Nada quebrado. A roupa segurou um pouco das escoriações e o capacete cumpriu o seu papel. Mas mesmo com ele, eu estava com um galo enorme do lado da cabeça. Nem quero saber o que poderia ter acontecido sem.
Liguei para a Lelê que estava saindo da aula e fui resgatado. Rotina de hospital, três pontos no supercílio, radiografias, recomendações de como cuidar pela próxima semana. Mesmo assim espero estar bem para o passeio ciclístico noturno da Virada Esportiva neste sábado.
Juro que não quero encarar essa disputa entre motoristas e ciclistas como uma guerra. Serviu de lição para ficar mais atento, identificar melhor as áreas de risco e não abusar. De resto, é continuar pedalando e tentar conscientizar as pessoas.
E fora o que eu regenerarei com o tempo? Acabei tendo sim uma perda material. A bicicleta saiu ilesa, mas não sei aonde foi parar o bendito botão da minha calça…
“Se o meu peito fosse um canhão, meu coração teria sido disparado”.
A frase é inspirada no Capitão Ahab, mas o sentimento de hoje à tarde era meu.
Cabeça cheia, me sentindo inquieto e com as paredes de casa me sufocando. O dia estava nublado e frio, a tarde com um ar estático que me sufocava. Resolvi sair sem rumo.
Bicicleta na rua e ladeira abaixo. Saracoteio por algumas ruazinhas e acabo caindo no Ibirapuera. Diferente do domingo ensolarado, hoje o parque estava quase deserto. Pedalei rápido pelas ruas que travavam meu movimento no final de semana.
Uma volta, duas voltas. Vento e ar frio pulsando nas minhas orelhas e lacrimejando meus olhos. Vontade de fazer algo diferente. Enfiei-me então na trilha em meio às árvores na qual costumo correr. Lama e poças, folhas úmidas que escorregavam como sabão, raízes e galhos que precisavam ser saltados.
Esticando a volta, passando em meio ao planetário, achei uma pracinha que nunca havia notado. Resolvo parar, apoiar a bicicleta, tirar umas fotos e conversar com os gansos.
Hora de voltar para casa, em meio a alguns corredores de final de tarde. Subindo em parte pelo caminho já conhecido e em parte explorando ruelas novas e espaços que sempre tive curiosidade de ver quando passava a pé.
Lama e suor por toda roupa, alma mais calma e contida.
Quando era moleque, andava bastante de bicicleta, mas apenas em casa (que tinha um quintal bem grande) e no parque do Ibirapuera. Nunca havia andado na rua antes.
Logo de cara, fiquei com um tremendo receio de enfrentar o trânsito, ainda mais por não dirigir um carro há mais de 10 anos. No primeiro dia, arrisquei primeiro com a montain bike um passeio curto, de uns 4 km, aqui pelas redondezas. Aproveitei e tracei uma rota com subidas, descidas, tráfego pesado e paralelepípedos. Como primeira experiência, foi bem OK.
Na noite do mesmo dia, após uma boa “botada de pilha” da Verônica, arrisquei ir até a consolação com a Dahon. Era noite, havia trânsito pesado pelo horário de pico e eu estava testando uma bicicleta que tem a estabilidade de um cabrito. Mesmo chegando com a adrenalina no talo, o passeio foi muito bom.
Duas semanas depois, posso dizer que já estou bem confortável andando em meio aos carros. Ganhei uma certa desenvoltura e peguei o jeito de me movimentar de forma mais ágil. Perdi o medo e já não fico mais cheio de adrenalina como antes.
Tem sido muito bom pedalar. A sensação de liberdade, chegando a 40km/h pelas próprias pernas, praticamente solto sem o casco de um carro à minha volta é muito boa. Pedalar no ar fresco da noite, após um dia inteiro de chuva, pelas ruas desertas do Jardins com todas as árvores em volta é uma delícia.
Quando ando com a Dahon, principalmente na região da Paulista, perto da hora do almoço, eu acabo chamando muito a atenção. Já tiveram algumas pessoas que vieram perguntar sobre a bicicleta minúscula, gente simples que ficou impressionada de como ela pode ser compactada, funcionários de empresas que viram uma possibilidade de ir pedalando para o escritório e guardar a bicicleta debaixo da mesa de trabalho. Essa interação com gente estranha é bem divertida.
Para fechar este post, meu primeiro problema de percurso (ocorrido nesta semana), que rendeu este diálogo insólito no meu twitter:
__Tocha__: Primeiro percalço de bicicleta: tive o pneu furado por um grampo de grampeador! Com paciência e a bomba de ar consegui chegar no bike shop.
gusmorabito: pneu furado por um grampo de grampeador? qtas vezes num falei pra não andar de bike dentro do escritório? Hehe
__Tocha__: Ciclismo corporativo foi classificado entre os 17 esportes mais perigosos. Um ciclista morreu após colidir com uma máquina de xerox.
“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente.”
............................................................................................Clarice Lispector
Assim como ocorreu com o Mário Quintana, esta semana foi o texto da Clarice que me seguiu em lugares diversos.
Fiquei pensando sobre o assunto. Certa feita, uma amiga definiu que os relacionamentos funcionam baseados nos defeitos que a outra pessoa tem. Um relacionamento só funciona se os defeitos da outra pessoa são toleráveis. As qualidades são apenas um bônus.
Achei que era uma visão pessimista. Mas mesmo sendo pessimista, acho que ela me levou a refletir sobre o assunto. Cheguei a conclusão de que os relacionamentos funcionam com base nas peculiaridades de cada um e a importância que o outro atribui a elas.
Todos possuem peculiaridades, que podem ser consideradas defeitos ou qualidades dependendo a forma como se encara. A questão é vermos quais destas peculiaridades são importantes para nós, quais achamos ruins e quais são indiferentes. Não creio que exista um parâmetro para definir se algo funciona ou não com base neste critério, pois isso varia de pessoa para pessoa, mas temos que ver o que é interessante para nós ou não.
Como tudo, existem as variáveis que interferem nesta teoria. Pessoas ficam juntas pelos mais diferentes motivos, motivos que variam entre amor, interesse, comodidade, desejo… Mas talvez o fator que mais “atrapalhe” seja um só: o medo.
Muitos têm medo de ficar sozinhos e por conta disso se agarram ao que está próximo como única possibilidade de felicidade e esquecem de duas coisas importantes:
– não precisamos de outra pessoa para sermos felizes. Devemos ser felizes por nós mesmos. Estar com a outra pessoa deve ser uma opção;
– existem 6,5 bilhões de pessoas no mundo. Mesmo se dividirmos este número pela metade, baseado na preferência tradicional de gênero, ainda são mais de 3 bilhões de possibilidades de dar certo.
No final, com ou sem matemática, teorizando ou não, a resposta da equação é simples: temos que ser felizes, não importa a forma que escolhemos para isso. Temos (aparentemente) apenas uma vida, que não é muito longa, para buscarmos a nossa felicidade. Busque-a então.
Este post vai no rastro do colocado pelo Ricardo Homsi, afinal ele teve a mesma idéia que eu, mas chegou antes.
No final de semana fomos à Pinacoteca, em um passeio matutino no domingo. A idéia era apreciar a mostra de Henri Matisse – que aliás está muito interessante, mostrando a evolução do seu trabalho – mas definitivamente o que mais captou a nossa atenção foi a instalação de Celéste Boursier-Mougenot , com o título de “Variations”. Na descrição da obra – “Instalação: aglomerado de madeira, tecido emborrachado, água, utensílios de porcelana, bomba d´água e aquecedor”.
Para aqueles que querem uma boa análise de como ela é, leia o texto do Ricardo no Cidade Louca. Aqui vocês podem apreciar ao vídeo que gravei no local (com a qualidade sofrida do celular):
O saldo final da visita foi que fiquei com uma vontade enorme de retomar o desenho, a pintura e a escultura. Acho que teremos novidades artísticas em um futuro próximo…
Existem momentos na vida que nos levam a repensar nossos valores. Normalmente momentos de quebra e sofrimento aonde tudo o que somos deixa de fazer sentido e precisamos reavaliar nossa vida como um todo. Existem alguns destes momentos nos quais parte dos sonhos morre, parte da inocência e visão de mundo utópica vai embora para sempre.
Para mim, o ano passado foi um desses momentos. Algo meu morreu lá.
Parte da minha confiança incondicional nas pessoas ficou para trás. Parte da crença nas amizades eternas, no respeito pelo outro, na minha própria valia se perdeu.
Hoje eu consegui recuperar parte disso, mas ficaram ensinamentos, principalmente quanto às amizades. Listo os mais importantes:
– Descobri que tenho menos amigos do que imaginava. Tenho muitos bons conhecidos e colegas, mas amigos, daqueles que eu posso contar e confiar para qualquer situação, daqueles que posso ligar no meio da madrugada em angústia e ter uma palavra de apoio e um suporte verdadeiro, estes são poucos.
– As pessoas são o que elas são. Não é porque ela é sua amiga (ou você acredita que é sua amiga) que ela vai agir diferente do que ela age com as outras pessoas e situações na vida. Talvez ela amenize algumas características indesejáveis, mas na hora que algo grave acontece, ela vai agir do mesmo jeito que sempre agiu.
– Não importa o quanto as pessoas te conheçam, não importa quanto tempo vocês tenham vivido juntos, não importa a forma que você age na sua vida como um todo: você sempre pode ser mal interpretado e julgado por algo que você não é, dependendo ou não dos interesses em jogo.
Mas como todo momento difícil, se optarmos por vê-lo como uma oportunidade de crescimento e mudança, podemos transmutar todo o sofrimento em algo bom. Com tudo o que ocorreu, tive a chance de me reaproximar de amizades verdadeiras que estavam mais afastadas, reatar o contato com pessoas que haviam ficado longe e reforçar o vínculo com novos amigos que surgiram na minha vida.
Na semana passada, uma amiga que voltei a ter contato me falou algo que ajudou a retomar o valor que vejo na amizade. Meses atrás, ela passou por uma fase de mudanças difíceis e quando eu soube o que estava ocorrendo, fui direto ver como ela estava. Revendo agora, ela falou que a minha preocupação naquele momento lá atrás foi uma das coisas que realmente ajudaram-na a superar o que havia ocorrido. O simples fato de que eu estava lá quando ela precisou, depois de anos de afastamento, serviu para que visse que não estava sozinha.
Mas outro acontecimento recente me fez refletir sobre o distanciamento que acabamos tendo das pessoas que realmente importam. Por vezes nos perdemos com problemas menores do nosso cotidiano e esquecemos delas. Um amigo soube recentemente do falecimento súbito de uma amiga que estava afastada. Momentos que poderiam ter sido compartilhados se perderam e não vão mais retornar.
Com tudo isso, aprendi a dar valor a quem realmente importa e decidi ser mais presente para estas pessoas, afinal é possível que não se tenha uma segunda chance de mostrar o quanto elas são importantes para mim.
Fecho o post com uma música do Renato Russo, do álbum “The Stonewall Celebration Concert”. A letra original era um pouco diferente e destinada a outro gênero, mas eu prefiro infinitamente a versão dele.
– – –
“If Tomorrow Never Comes”
Sometimes late at night
I lie awake and watch him sleeping
He’s lost in peaceful dreams
So I turn out the lights and lay there in the dark
And the thought crosses my mind
If I never wake up in the morning
Would he ever doubt the way I feel
About him in my heart
If tomorrow never comes
Will he know how much I loved him
Did I try in every way to show him every day
That he’s my only one
And if my time on earth were through
And he should face this world without me
Is the love I gave him in the past
Gonna be enough to last
If tomorrow never comes
‘Cause I’ve lost loved ones in my life
Who never knew how much they mean to me
Now I live with the regret
That my true feelings for them
never were revealed
So I made a promise to myself
To say each day how much they mean to me
And avoid the circumstance
Where there’s no second chance to tell him
how I feel
If tomorrow never comes
Will he know how much I loved him
Did I try in every way to show him every day
That he’s my only one
And if my time on earth were through
And he should face this world without me
Is the love I gave him in the past
Gonna be enough to last
If tomorrow never comes
So tell that someone that you love
Just what you’re thinking of
If tomorrow never comes
– – –
If tomorrow never comes…