Existem momentos na vida que nos levam a repensar nossos valores. Normalmente momentos de quebra e sofrimento aonde tudo o que somos deixa de fazer sentido e precisamos reavaliar nossa vida como um todo. Existem alguns destes momentos nos quais parte dos sonhos morre, parte da inocência e visão de mundo utópica vai embora para sempre.
Para mim, o ano passado foi um desses momentos. Algo meu morreu lá.
Parte da minha confiança incondicional nas pessoas ficou para trás. Parte da crença nas amizades eternas, no respeito pelo outro, na minha própria valia se perdeu.
Hoje eu consegui recuperar parte disso, mas ficaram ensinamentos, principalmente quanto às amizades. Listo os mais importantes:
– Descobri que tenho menos amigos do que imaginava. Tenho muitos bons conhecidos e colegas, mas amigos, daqueles que eu posso contar e confiar para qualquer situação, daqueles que posso ligar no meio da madrugada em angústia e ter uma palavra de apoio e um suporte verdadeiro, estes são poucos.
– As pessoas são o que elas são. Não é porque ela é sua amiga (ou você acredita que é sua amiga) que ela vai agir diferente do que ela age com as outras pessoas e situações na vida. Talvez ela amenize algumas características indesejáveis, mas na hora que algo grave acontece, ela vai agir do mesmo jeito que sempre agiu.
– Não importa o quanto as pessoas te conheçam, não importa quanto tempo vocês tenham vivido juntos, não importa a forma que você age na sua vida como um todo: você sempre pode ser mal interpretado e julgado por algo que você não é, dependendo ou não dos interesses em jogo.
Mas como todo momento difícil, se optarmos por vê-lo como uma oportunidade de crescimento e mudança, podemos transmutar todo o sofrimento em algo bom. Com tudo o que ocorreu, tive a chance de me reaproximar de amizades verdadeiras que estavam mais afastadas, reatar o contato com pessoas que haviam ficado longe e reforçar o vínculo com novos amigos que surgiram na minha vida.
Na semana passada, uma amiga que voltei a ter contato me falou algo que ajudou a retomar o valor que vejo na amizade. Meses atrás, ela passou por uma fase de mudanças difíceis e quando eu soube o que estava ocorrendo, fui direto ver como ela estava. Revendo agora, ela falou que a minha preocupação naquele momento lá atrás foi uma das coisas que realmente ajudaram-na a superar o que havia ocorrido. O simples fato de que eu estava lá quando ela precisou, depois de anos de afastamento, serviu para que visse que não estava sozinha.
Mas outro acontecimento recente me fez refletir sobre o distanciamento que acabamos tendo das pessoas que realmente importam. Por vezes nos perdemos com problemas menores do nosso cotidiano e esquecemos delas. Um amigo soube recentemente do falecimento súbito de uma amiga que estava afastada. Momentos que poderiam ter sido compartilhados se perderam e não vão mais retornar.
Com tudo isso, aprendi a dar valor a quem realmente importa e decidi ser mais presente para estas pessoas, afinal é possível que não se tenha uma segunda chance de mostrar o quanto elas são importantes para mim.
Fecho o post com uma música do Renato Russo, do álbum “The Stonewall Celebration Concert”. A letra original era um pouco diferente e destinada a outro gênero, mas eu prefiro infinitamente a versão dele.
– – –
“If Tomorrow Never Comes”
Sometimes late at night
I lie awake and watch him sleeping
He’s lost in peaceful dreams
So I turn out the lights and lay there in the dark
And the thought crosses my mind
If I never wake up in the morning
Would he ever doubt the way I feel
About him in my heart
If tomorrow never comes
Will he know how much I loved him
Did I try in every way to show him every day
That he’s my only one
And if my time on earth were through
And he should face this world without me
Is the love I gave him in the past
Gonna be enough to last
If tomorrow never comes
‘Cause I’ve lost loved ones in my life
Who never knew how much they mean to me
Now I live with the regret
That my true feelings for them
never were revealed
So I made a promise to myself
To say each day how much they mean to me
And avoid the circumstance
Where there’s no second chance to tell him
how I feel
If tomorrow never comes
Will he know how much I loved him
Did I try in every way to show him every day
That he’s my only one
And if my time on earth were through
And he should face this world without me
Is the love I gave him in the past
Gonna be enough to last
If tomorrow never comes
So tell that someone that you love
Just what you’re thinking of
If tomorrow never comes
– – –
If tomorrow never comes…
8 comentários
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04/09/2009 às 11:11
Heloisa
Nossa Tocha, li suas palavras e elas pareciam sair de minha boca.
Sei que nunca agradeci verdadeiramente a vocês pelo apoio que nos deram mas saibam que a presença de vocês ali, naquele momento insólito, foi muito reconfortante.
Sei que a distância física não é desculpa e que a correria do dia a dia ainda permite, se nos esforçarmos, que a gente ache aquele espaço na agenda que nem sempre temos. Então fica aqui um muito obrigada e também um me desculpe pelas ausências.
Você (e a Lelê) é muito querido por nós.
Beijos carinhosos e cheios de saudade.
04/09/2009 às 12:12
André Moreau
Distância física nunca é um fator real de ausência, pelo menos não nos dias de hoje. A distância emocional é que é complicada. A presença às vezes vem de uma simples lembrança, um preocupar eventual manifestado de alguma forma, ou um comentário no blog. 🙂
04/09/2009 às 11:53
Nayra
obrigada por fazer refletir sobre coisas tão importantes… confesso que ainda tenho um monte para aprender sobre a amizade e vc tem uma sensibilidade que inspira.
Acredito que o maior problema que existe é o medo que as pessoas têm de se machucarem e machucarem os outros e a falta de centro… acho que isso faz as pessoas se afastarem umas das outras. Mas não sei, o que importa é não perdermos a fé nas pessoas e a vontade de cuidar daqueles que amamos.
04/09/2009 às 12:03
Mauricio Gibrin
É Tocha. Só não se esqueça que, assim como a gente, os outros também mudam. E também repensam suas atitudes, revêem seus conceitos, crescem com os tombos. Assim, nenhuma porta se fecha permanentemente – é só dar tempo ao tempo… 😉
Abração,
Gibs
04/09/2009 às 12:19
André Moreau
Acredito que todos crescem Gibs, acredito que existam segundas, terceiras e quartas chances, mas acredito também que existem certos pontos na essência das pessoas que são quase imutáveis.
Mas quanto às portas, acredito sim que existam as que se fecham permanentemente. Já debatemos isso uma vez, numa noite de karaokê, lembra? Que temos que entender que existem pessoas que simplesmente vão passar por nossas vidas e não voltarão mais. Ciclos, inícios e fins.
04/09/2009 às 16:52
Ní
Dé,
nada melhor do que ler o que vc escreveu para eu ver que meus problemas são nada. Vc é um amigo e tanto. Obrigada pelo apoio. bjuss
04/09/2009 às 17:04
Fausto
Post f*** nunca sei o que comentar nos seus posts, eles costumas falar bastante por sí próprios.
É realmente importante estarmos juntos daqueles que importam. Mas preciso confessar que sou péssimo nisso tb. Vc é das pessoas que mais me faz lembrar desse comprometimento que os amigos merecem!
09/09/2009 às 18:06
Mauricio Gibrin
Vou dizer que concordo parcialmente. Tenho amigos que deixaram a minha convivência pacificamente – a amizade simplesmente deixou de fazer sentido e cada um foi pro seu lado. Eu estou 100% ok com isso.
Mas as que saíram da minha vida de modo desagradável, por desavenças e incompreensões, precisam – e irão – ser revistas. Basta um pouco de boa vontade e nenhuma pressa – com o tempo, tudo se resolve (e então elas poderão sair da sua vida pacificamente, como deve ser – hehehe).
Abração!
Gibs