Bom, muita gente já sabe da minha história, então conseguiu entender meu post anterior. Para os que não sabem, um breve resumo.

A mais ou menos 12 anos atrás, descobri que meu pai biológico não era meu pai de criação. O próprio modo que eu fui descobrir sobre o assunto foi complicado: minha avó tinha acabado de receber o diagnóstico de câncer na garganta e tinha sofrido uma traqueostomia de emergência. Na cama do hospital, achando que não iria sobreviver muito mais, me contou a minha real origem.

Foi uma época complicada. Demorei anos para conseguir superar a rejeição que sentia por saber que fui deixado de lado ainda antes de nascer. O mais complicado foi saber que meu pai biológico ainda estava vivo e por conta dessas coincidências malditas da vida, acabou indo morar a poucas quadras da casa da minha mãe. A única parte boa que veio desta história foi a tia que ganhei, que quando me conheceu me acolheu e me tratou com o maior carinho possível.

Tive contato com meu pai biológico apenas em dois momentos na vida, um em que a minha mãe entrou em contato com ele e forçou-o a falar pessoalmente comigo (e toda a conversa durou infelizes 5 minutos) e quando o marido da minha tia faleceu, aonde troquei um aperto de mão desconfortável com ele durante o velório.

De lá para cá, a saúde da minha tia andou piorado muito. Ela tem 81 anos, já teve pelo menos um enfarto e agora no final do ano teve seu terceiro AVC. Ela já não anda mais e está restrita à cadeira de rodas. Tudo tem se tornado muito difícil. Ela começou a ter muita confusão mental e está desistindo da vida. Como ela não teve filhos (e ironicamente, meu pai biológico também não, exceto a mim), eu acabei “encarregado” de cuidar dela.

Mas aí esbarrei em uma questão legal. Por mais que eu já a ajude e conviva com ela ha bastante tempo, não tenho nenhum vínculo real com ela. Sou ilegítimo perante a justiça. Para conseguir coordenar as coisas em termos jurídicos estou tendo que receber dela uma procuração para isso.

Claro que eu quis ser correto nisto tudo, claro que eu quis deixar tudo às claras, então pedi para que ela entrasse em contato com o único parente reconhecido que ainda está vivo, o seu irmão, e explicasse da situação. Claro que as coisas não poderiam ser simples e é claro que ele não aceitou.

Nesta quinta-feira eu terei meu terceiro encontro em vida com meu pai biológico e desta vez será ainda menos agradável que nas outras duas. Vou ter que bater de frente com ele no momento que o oficial de justiça irá à casa da minha tia para colher as assinaturas para a procuração.

Por que é tão difícil fazer algo de bom pelos outros? Por que as boas intenções são sempre vistas com uma ótica distorcida? Pessoas são extremamente complicadas.